sábado, 12 de julho de 2008

O Paraíso é o Amor


O Paraíso é o Amor

O paraíso é o amor. Que tipo de amor? O amor do verdadeiro bem. Neste mundo não há verdadeiro bem. Há algumas migalhas, partículas, fragmentos, ... mas não o verdadeiro bem que nos possa saciar... Nosso coração foi feito pelo Senhor de tal modo que dentro dele tudo se pode colocar: um belo romance, uma profunda amizade, um elogio de uma autoridade, tudo o que quisermos e ainda maiores coisas, mas ele nunca se encherá. Só no outro mundo, porque ali é realmente o Bem verdadeiro, Deus, que pode saciar. Amor do verdadeiro bem, cheio de alegria. Alegria que ultrapassa toda a doçura. Não há comparação entre a alegria experimentada neste mundo com a que se provará no outro. É totalmente diverso!
Um homem seguia pela estrada e foi atacado por ladrões. Brutalmente despojado, ferido, foi deixado meio morto (Lc 10,30). Também em nossa estrada bandidos atacam. O primeiro deles é o pecado mortal, que tem as características daqueles ladrões: brutais, predadores, que nos deixam meio mortos. Brutal, porque o pecado mortal é uma rebelião contra Deus. Lembrem-se do faraó quando Moisés foi lhe falar e lhe disse: O Senhor ordena que deixes sair do Egito o povo Hebreu. Uma fronte se enruga, as sobrancelhas se franzem e vem uma resposta seca e cortante: Quem é este Deus? Não tenho de escutá-lo (Ex 5,2).
Quando cometemos um pecado mortal... nós nos comportamos como o faraó: Que aborrecido é este Deus! Não me deixa em paz, mas é preciso que se faça aquilo que ele quer! Ouves a voz do Senhor, lá dentro que te diz: Atenção! Sabes por experiência que não deves ir outra vez naquela casa de onde saíste mal. Não andes com aquela pessoa! Respondes: Que aborrecimento! E Ele não quer saber de desculpas! Voz de Deus? Que nada! O que ouço lá dentro é mau humor... Que importuno este Deus!
O pecado mortal é revolta! O Salmo 52/53 fala do insensato: O insensato pensa consigo mesmo: Deus não existe! Temos de confessar, para nossa grande confusão: quando, de olhos abertos, cometemos um pecado mortal, no fundo do coração queremos que Deus não exista e não venha nos perturbar... É um milagre que Deus não se contenha, um milagre de paciência e misericórdia! O pecado mortal é desprezo! O profeta Oséias falando do povo Hebreu, que procedia mal diz: É preciso vos fazer saber que sois como um comerciante que usa balança falseada (Os 12,7). Nós, no pecado mortal, usamos uma balança fraudada, onde temos dois pratos: num coloco Deus. Não se pode colocar Deus no prato da balança, pois Ele é incomparável! Mas coloco mesmo assim! E noutro coloco um romance proibido, uma relação ilícita, um sentimento de ódio... Vendo-se posto na balança, Deus diz: Mas onde me põe este meu filho?... Com quem ele me faz semelhante? Com quem me compara? (Is 46,5). O pecado mortal é ingratidão! Vocês conhecem o maravilhoso Canto da Vinha de Isaías (Is 5,1-7): Plantei uma vinha sobre uma colina fértil... Esperei uvas escolhidas, mas que nada! Apenas uvas azedas... Judá vem e julga o caso entre mim e a vinha. Diz: é culpa minha? Minha? Mas fiz tudo o que podia fazer! Não, não é uma vinha, é o povo de Israel. Esperava que fizesse justiça, e, em vez disto, eles aumentam sua maldade!
O demônio é um excelente psicólogo. Quando quer induzir alguém ao pecado mortal... tem bastante cuidado de não propor de cara o pecado... então, manda a precursora do pecado mortal: a tibieza... O que é a tibieza? A tibieza surge quando uma pessoa faz como que um acordo com o pecado venial. Estabelece uma amizade com o pecado venial, lhe concede um certo amor, aceita uma relação habitual. Em outras palavras: o pecado venial se insinuou e se instalou habilmente, sem que ela tenha reação... Deixa que fique ali, como em casa própria, lhe arranja desculpas, desculpas habituais e de bom grado!
Os sinais da tibieza... em três expressões de São Lourenço Justiniani: Fugir da santidade, ter preguiça de lutar, negligenciar a oração.
Fugir da santidade... Quem está na tibieza não quer se tornar santo... basta-lhe o meio caminho... escolhi esta mediocridade e isto me basta!... Um pouco de incenso para Deus... e agora chega, pois devo incensar a mim mesmo... um pouco para o Senhor e um pouco para meu próprio conforto... Desde que eu não chegue ao pecado mortal... O tíbio é a pessoa do metro, da balança, do conta-gotas... Dá ao Senhor, mas com uma avareza que é totalmente o oposto de generosidade que Deus deseja em nós.
Ter preguiça de lutar... Diz o tíbio: não vamos fazer guerra! Não me exponho, sobre tudo se se trata de batalhas duras, difíceis... Nada de sacrifícios... São Francisco de Assis? Qual quê! Um exagerado, um exaltado! É preciso ter os pés na terra... Mas o Senhor disse que quer todos santos, incluindo leigos, os casados... E o tíbio não se deixa convencer... Alguém quer enfrentar? Eu daqui não saio... Devagar, devagar, fiquemos no indispensável.
Negligenciar a oração! E a pessoa tíbia se torna muito diferente da que era antes, pois, se há pessoas que sempre foram “mornas” outras vezes cai na tibieza quem já foi fervorosa. E começa a fazer distinções... Se deixa o Rosário, diz: Bem, não acredito que seja pecado... É apenas recomendado... E continua: mais do que é mandado não faz. Não guarda recolhimento, não reza sequer uma jaculatória. Nenhuma elevação da alma a Deus... Se tem um ofício que obrigue, ainda vai a Igreja, mas o faz sem um pensamento, com uma piedade que causa piedade...

(traduzido e adaptado de Albino Luciani – Papa João Paulo I –
Il Buon Samaritano, Edizioni Messagero di Padova, 2ª ed. Pádua, 1980)

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